Filantropia Estratégica no Divã: Segunda SessãoFilantropia Estratégica no Divã: Segunda SessãoFilantropia Estratégica no Divã: Segunda Sessão

Filantropia Estratégica no Divã: Segunda Sessão

A segunda parte de uma série

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Proximate Brasil

A collaboration between Proximate and Philó to explore participatory problem-solving in Brazil

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Leia a primeira aqui.

A Filantropia Estratégica entra no consultório da terapeuta após um final de semana bebericando caipirinhas com seu melhor amigo, Altruísmo Eficaz, no Copacabana Palace. Sentindo-se confiante de que não há nada de errado com ela e que as dúvidas que pairavam não passavam de um tremor momentâneo em sua autoestima, agora superado. Ao olhar para a terapeuta e para os Ipês amarelos em flor ao longo da Avenida Faria Lima, do lado de fora da janela, ela rapidamente mergulha em sua bem ensaiada fala de abertura.

“Está tudo bem, doutora. No final das contas, acho que não vou precisar de todas as sessões que combinamos. Tive um fim de semana revelador e percebi que, na verdade, não há filantropia sem uma mudança clara e mensurável no final do dia, e estou bem equipada para alcançá-la. Eu sou a estratégia”.

“Que pensamento interessante”, responde a terapeuta junguiana, após um gole fiel de sua bebida. “Me ajude a entender: o que significa o seu nome, filantropia?”

“Olha, se um indivíduo der um basta em todo o lenga-lenga e otimizar sua pesquisa, como eu faço, perguntando ao ChatGPT, ele dirá que isso vem das raízes gregas philos (amor) e anthropos (humano), então significa literalmente ‘amor pela humanidade’.”

“Entendi. E é isso que você faz? Ama a humanidade?”

“Honestamente, é um pouco cafona para o meu gosto”, responde Filantropia Estratégica com um olhar de desdém. “Eu não me posiciono dessa forma. Falar isso traz um certo ar de soltura, paz e amor, sem ação ou resultado claro. É por isso que enfatizo ‘estratégico’, entendeu? O objetivo é me diferenciar de todo o blábláblá da filantropia tradicional e sinalizar um continuum de evolução.”

“Entendo”, responde a terapeuta. “Então você se sente como uma evolução da filantropia tradicional porque pode planejar, medir e resolver problemas, enquanto ela é frequentemente associada a benfeitores ignorantes que não têm um plano claro para a mudança.”

“É… é um bom resumo”, concorda ela com a cabeça, sentindo-se pronta para se levantar e sair da sessão para todo o sempre. 

“Hum”, reflete a terapeuta levantando as sobrancelhas em curiosidade, “e se eu te dissesse que a etimologia da filantropia está ligada ao mito de Prometeu, que roubou o fogo sagrado dos deuses para dar aos humanos. Ele foi rotulado como filantropo, ou amante dos humanos — e não de uma maneira positiva, devo acrescentar. Na verdade, os deuses ficaram extremamente irritados com a traição de Prometeu e o puniram de uma maneira grotesca por toda a eternidade. Isso dá um novo significado à compreensão do seu nome?”

“É uma história legal, eu não sabia disso. Mas que diferença isso faz? Quero dizer, não estamos mais na Grécia Antiga...

‘Well, Carl Jung says that a name might carry archetypal hints about the unfolding of one's life path. Since life is a process of individuation of the soul… if you are named after the betrayal of the status quo, what does that infer about your purpose? And what does it mean to approach that purpose strategically?’ 

“Bom, Carl Jung diz que um nome pode conter dicas arquetípicas sobre o desenrolar do caminho de vida de uma pessoa. Como a vida é um processo de individuação da alma… se você recebeu um nome que remete à traição do status quo, que dicas isso te dá sobre o seu propósito? E o que significa abordar isso estrategicamente?” 

Confusa e frustrada por ter perdido a oportunidade de sair da sessão logo no começo, Filantropia Estratégica se move na cadeira, buscando algum tipo de conforto.

“Não sei, na verdade. Quero dizer, no fim das contas, tem a ver com tornar o mundo um lugar melhor, certo? Um lugar mais justo para todos. Se isso requer abrir novos caminhos e mudar a si mesmo daquilo que era esperado, acho que faz sentido.” Ela faz uma pausa, olhando para longe, como se tivesse sido atraída por um estranho fluxo gravitacional de consciência. “No fim das contas”, ela continua, “a mairia das pessoas que doam ou recebem recursos querem a mesma coisa: fazer algo que tenha um efeito positivo na sociedade e no meio ambiente”

Após um breve e interminável momento de silêncio...

“E talvez dar dinheiro sem uma estratégia pré-definida permita que aqueles que o recebem definam a estratégia com base em suas experiências de vida e compreensão de uma situação... tipo, eu duvido que os humanos tivessem o mesmo uso para o fogo do que os deuses, certo? Quero dizer, a maneira como os humanos usaram o fogo mudou suas vidas para sempre, atendendo às suas necessidades. Eles provavelmente também sofreram algumas queimaduras ao longo do caminho. E isso seria, de certa forma, uma traição ao que eu deveria ser.”

“Como assim?”, pergunta a terapeuta, já quinze minutos depois do final da sessão e com um sorriso sutil em seus lábios, e secretamente ansiosa para se livrar do kombucha. 

“Bom... Se os deuses tivessem dado o fogo aos humanos e dissessem como eles poderiam usá-lo, quando poderiam usá-lo e que o tirariam deles se o usassem de forma errada, será que os humanos teriam se tornado o que são agora?

Agradecimentos a Veridiana Aleixo pelos insights junguianos. 

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